Opiniões

“Seca” de Neal e Jarrod Shusterman

Autores: Neal Shusterman e Jarrod Shusterman
Editora:
 Saída de Emergência
Publicação: Outubro de 2015
Género: Ficção Distópica
Nº de Páginas: 320

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Sinopse

«A seca já dura há muito tempo na Califórnia. E a vida da população tornou-se uma interminável lista de proibições: proibido regar a relva, proibido encher a piscina, proibido lavar o carro ou tomar duches longos. Até que as torneiras secam de vez. E é assim que, de repente, o tranquilo bairro onde Alyssa Morrow vive se transforma numa zona de guerra, onde vizinhos e famílias, outrora solidários, se digladiam em busca de água. Quando os pais da jovem não regressam e a sua vida é ameaçada, Alyssa tem de tomar decisões impossíveis se quiser sobreviver. Um thriller fantástico que pode acontecer ainda no nosso tempo… e na nossa rua.»

Capa: ★★★★☆
Enredo: ★★★☆☆
Escrita: ★★★☆☆
Personagens: ★★★☆☆
Avaliação Final: ★★★★☆

É um livro relativamente novo, visto que a 1ª edição só saiu em Portugal em abril de 2019. Ainda assim, o tema retratado mantém-se intemporal. Começando pela capa, quem leu o livro pode concordar que a escolha de cores não foi aleatória. A predominância do vermelho e aquela «gota» de água azul que parece que cai do céu sobre as chamas fulgurantes são quase um prenúncio da história. Além desse azul, todos os outros tons utilizados assentam de forma muito discreta. É um design que desperta algo, quase como uma sensação de alerta. Um trabalho muito bem conseguido pela designer Chloe Foglia.

«A nossa torneira morreu e não há reanimação que a traga de volta à vida. Tomo nota como fazem nas urgências: 13h32min, dia 4 de junho.»

A história foi dividida em seis partes, cada uma retratando uma fase diferente do conflito, o chamado «O Fechar da Torneira», que assinala o dia em que a água desapareceu de vez na California. A ação desenrola-se através de várias perspectivas, mas a principal pertence a uma jovem de 16 anos chamada Alyssa Morrow. Ao início achei-a chata e arrogante. Apesar de inteligente, vivia numa bolha completamente isolada da realidade e era sempre a primeira a apontar o dedo às pessoas. Com o desenrolar das coisas, a sua personalidade foi-se lentamente moldando aos acontecimentos. O desaparecimento dos pais e a responsabilidade de manter o seu irmão mais novo, Garrett, em segurança despertaram em Alyssa as capacidades de uma líder que não olha a meios para proteger aqueles que ama. É uma evolução que acontece de forma muito gradual e vamo-nos apercebendo disso à medida que Alyssa é obrigada a tomar decisões necessárias à sua sobrevivência que, ao mesmo tempo, vão contra a sua índole moral.

«Se ela tiver de morrer para que o meu irmão viva, levarei a água dela e deixá-la-ei a morrer. Henry tinha razão. Por vezes, são os monstros quem sobrevive. E eu agora sou o monstro.»

Acompanhando Alyssa na sua jornada estão outras personagens: Garrett, irmão mais novo de Alyssa, uma criança que dá o seu melhor para lidar com o mundo que desmorona à sua volta. Kelton, cuja família se vem preparando para o apocalipse há anos, o que inclui um stock de vários tipos de armas, armadilhas no quintal e um refúgio secreto no meio da floresta. Kelton nutre um amor platónico por Alyssa, mas não é correspondido porque Alyssa sempre o viu como uma espécie de aberração. Depois temos Jacqui, a típica rebelde indomável sem qualquer tipo de apreço por regras. Alyssa batia muito de frente com ela por terem personalidades tão diferentes. De todas as personagens, Jacqui foi a que menos gostei. Achei-a demasiado forçada e tudo nela se tornou pouco credível para mim. Por fim, temos Henry. Foi o último a juntar-se ao grupo e o primeiro a abandoná-lo. É um rapaz calculista e manipulador que encara a vida como um negócio e faz de tudo para sair a ganhar. A forma como todas estas personagens agem e se relacionam entre si levanta várias questões. No fundo, é tudo uma análise ao comportamento humano. Até onde somos capazes de ir para sobreviver? E quando a sobrevivência daqueles que amamos também está nas nossas mãos? Podemos realmente ser julgados por isso? São questões que me confrontaram ao longo da obra. 

«Não foi Jacqui quem nos disse que o corpo humano é composto por sessenta por cento de água? Bom, agora sei o que compõe o resto. O resto é pó, o resto é cinza, é tristeza e é dor…»

Além das perspectivas das personagens, a história tem vários capítulos avulsos chamados «Instantâneos». Relatam as consequências do «Fechar da Torneira» em outros pontos da California e a forma como a sociedade no geral lida com isso. São eles que nos permitem ver o que está a acontecer fora da visão de Alyssa e do seu grupo.

Sei que muita gente não ficou agradada com o final, mas eu gostei. Não foi um final conclusivo, no qual todas as pontas soltas se atam porque este livro não precisa de uma conclusão dessas. Acabou onde tinha de acabar, sem delongas desnecessárias; forçou-nos a abandonar a história num ponto em que ainda não estávamos confortáveis o suficiente para superar tudo o que aconteceu. O livro em si não apresenta nada de novo a quem já está acostumado ao gênero, mas não deixa de ser uma boa leitura. Mas, muito mais que uma simples história, isto foi também um aviso. E nisto, compreende-se a tal sensação de alerta que a capa transmite. Funciona quase como um sinal de trânsito. Daqueles a vermelho, com letras gordas e salientes que nos chamam logo à atenção.

«Perigo, o planeta está a morrer!»

 

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