Litinerário

Guia Literário de Lisboa: Raparigas Como Nós

Ao escrever Raparigas Como Nós, Helena Magalhães não nos deu apenas um hino literário para os jovens portugueses, mas também um incrível guia turístico de Lisboa (e arredores). Foi ela que me inspirou a criar este segmento do blog. Quantas vezes ficamos com vontade de conhecer os lugares que são descritos nas histórias que lemos? Ao ler a mais recente história de Helena, fiquei com esse bichinho atrás da orelha, apesar de já conhecer a maior parte deles. Adquiriram uma nova magia ao serem o cenário das vidas de personagens que nos marcaram tanto. Foi por isso que, inspirada pela Isabel e pelas suas aventuras, decidi voltar a desbravar a cidade de Lisboa. Selecionei alguns lugares específicos mencionados na obra e cruzei a linha que separa a ficção da realidade.

Armazéns do Chiado

Entrada dos Armazéns do Chiado — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

O primeiro ponto deste litinerário é um conhecido por qualquer bom português. O local que alberga os Armazéns do Chiado era inicialmente local da irmandade do Espírito da Santa Pedreira. O edificio sofreu várias obras durante o séc. XVII e foi reconstruído após o famoso terremoto de Lisboa, em 1755 . Em 1894 já eram os Grandes Armazéns do Chiado, um local de referência para o comércio português. Foi alvo de um incêndio em 1988, após o qual sofreu uma grande reconstrução arquitetónica. Continua a ser, até aos dias de hoje, um dos maiores pontos de referência da cidade de Lisboa. Está situado na Rua do Carmo e é facilmente acessível através da linha azul do metro, paragem da Baixa-Chiado.

«Eu e a Alice gostamos de andar pelo Chiado, seja Inverno ou Verão. É como quando tínhamos catorze anos e os nossos pais nos deixaram apanhar o comboio para Lisboa. Planeávamos as viagens com todo o rigor. Lanchávamos na Rua Garrett – croissants de chocolate e sumo de laranja nos Armazéns do Chiado.»

O Chiado é um dos lugares mais frequentados por Isabel. Foi no Largo do Chiado que andou, pela primeira vez, de mãos dadas com Afonso. O Café no Chiado é onde têm o seu primeiro pequeno-almoço, numa esplanada com vista para o São Carlos. Os dois também iam com regularidade ao Cinema Ideal, na Rua do Loreto.

Miradouro São Pedro de Alcântara

Vista do Miradouro São Pedro de Alcântara — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

Este miradouro localiza-se no Jardim São Pedro de Alcântara, na freguesia da Misericórdia, perto do Bairro Alto. O projeto original constituía uma muralha de 20 metros, mandada construir pelo rei D. João V no séc. XVIII. Foi apenas em 1835 que a Câmara Municipal de Lisboa transformou o local num jardim público.

«Sigo em direção ao Miradouro de São Pedro de Alcântara e sento-me  numa das cadeiras espalhadas pelo jardim, de onde contemplo o Castelo e a encosta da Mouraria. Consigo pensar em muitos finais de tarde passados ali – alguns com os amigos do Afonso e com a Alice, outros só nós os dois.»

A vista do miradouro é absolutamente fantástica (como podem verificar pela foto que tirei). Era onde Isabel e Afonso iam no verão observar o pôr-do-sol e é um dos lugares que Isabel visita durante o passeio que faz por Lisboa, numa das suas piores fases. Nas redondezas existe uma pequena banca que vende alguns petiscos e sumos de fruta biológica, ideal para quem se quer refrescar.

Cais do Sodré

Cais do Sodré — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

 

Este lugar dispensa grandes apresentações. Situado na beira do Tejo, é um excelente ponto de encontro, seja de dia ou de noite. É onde se localizam a estação ferroviária e a estação fluvial, que faz ligação com a Margem Sul.

«Volto ao Largo Camões e desço a Rua do Alecrim até ao Cais do Sodré, procurando a beira-rio. Há alguns madrugadores por ali – caminhantes ou adeptos das corridas matinais que aproveitam a brecha do céu sem chuva para se aventurarem.»

O Simão, o primeiro amor de Isabel, carregou-a às cavalitas uma noite, desde Santos até ao Cais. O programa foi o mesmo de qualquer bom jovem português. Foram comer pão com chouriço, deduzo, à Merendeira, e dançar a um bar de salsa nas Docas. De manhãzinha, foram até à Estação de Comboios do Cais do Sodré, apanhar o comboio de volta para casa. Durante o dia, também é possível beber um café numa esplanada à beira-rio, ouvir exibições de músicos de rua ou apenas desfrutar da vista.

Jardins de Belém

Jardins de Belém — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

Belém é outro dos locais mais mencionados no livro. Possui uma grande ligação à era dos Descobrimentos e é repleto de áreas verdejantes, restaurantes, cafés e museus. Todos os anos, há um festival de música jazz ao ar livre, o Out Jazz, que atrai jovens, adultos e idosos.

«O Jardim de Belém está cheio. Há famílias com crianças pequenas sentadas em mantas e toalhas estendidas na relva. Pessoas que fazem piqueniques com caixas de salgados, latas de cerveja e sanduíches. E grupos de míudos espalhados pela relva a beber e a conversar. Percebo que há uma espécie de  concerto acústico de uma banda portuguesa que não conheço, mas da qual já ouvi meia dúzia de temas na rádio. No fim de contas, isto é apenas uma desculpa para dar vida aos jardins da cidade num feriado de Primavera.»

Era onde morava Afonso, o grande amor de Isabel. Foi um dos pontos por onde Isabel passou durante o seu grande passeio por Lisboa. Apanhou o elétrico 15 e fez o percurso do Cais do Sodré até Belém. Visitou o Centro Cultural de Belém, os Jardins de Belém (onde passara longas tardes a ler, a ouvir música e a comer gelados), o Museu dos Coches e claro, nos icónicos Pasteis de Belém, apesar de não ter tido paciência para ficar na fila. Foi também nos Jardins de Belém, durante o festival de música, que Isabel teve um encontro desagradável com Afonso, que a deixou de rastos.

Hotel do Bairro Alto

Hotel do Bairro Alto — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

Quando se fala em noite lisboeta, é impossível não falar do Bairro Alto, um bairro característico de Lisboa, revestido de pedra, ruas estreitas e pequenos estabelecimentos de comércio tradicional.

«Volto ao ponto de partida e paro em frente ao Hotel do Bairro Alto – as vezes que lanchámos no terraço fingindo que éramos turistas. Falávamos um inglês cerrado como se viéssemos do Norte de Inglaterra, dizíamos «coffee please» e ríamos, felizes.»

Era no Bairro Alto que Isabel e Afonso passavam noites de muito amor e diversão, deambulando pelas tascas, bebendo sangrias, ou, o Afonso bebendo martinis e a Isabel margaritas de limão com sal na borda. O Bairro Alto Hotel, na Praça Luís de Camões, foi fechado 2017 para obras e reabriu em agosto deste ano. O famoso terraço foi transformado num rooftop reservado para hóspedes, mas, em compensação, foi inaugurado o BAHR, um restaurante e cocktail bar aberto a qualquer pessoa, também com um terraço onde é possível apreciar uma vista maravilhosa sobre a cidade e o Tejo.

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