Opiniões

“O Sol Também é uma Estrela” de Nicola Yoon

Autora: Nicola Yoon
Editora:
Editorial Presença
Publicação: Junho de 2019
Género: Romance Young Adult
Nº de Páginas: 352

Compra Aqui!

Sinopse

«A história de uma rapariga, um rapaz e o universo.

Natasha: Sou uma rapariga que acredita na ciência e nos factos. Não acredito no destino. Não sou de todo aquele tipo de rapariga que encontra um rapaz simpático numa rua nova-iorquina cheia de gente e se apaixona por ele. Não quando a minha família está a doze horas de ser deportada para a Jamaica. Apaixonar-me por ele não será a minha história.

Daniel: Sou o bom filho, o bom estudante, correspondendo sempre às elevadas expectativas dos meus pais. Nunca fui o poeta. Ou o sonhador. Mas quando a vejo, esqueço tudo isso. Algo em Natasha faz-me pensar que o destino nos reserva, a ambos, alguma coisa muito mais extraordinária.

O universo: Cada momento das nossas vidas conduziu-nos a este momento único. Há um milhão de futuros perante nós. Qual deles se tornará realidade?»

Capa: ★★★★★
Enredo: ★★★★★
Escrita: ★★★★☆
Personagens: ★★★★★
Avaliação Final: ★★★★★

Há livros que nos marcam. Não pela história, pelas personagens ou pela escrita. Às vezes por nada em específico. Marcam-nos por aquilo que nos fazem sentir e foi exatamente o que me aconteceu com este livro. Li-o para completar o último desafio do Goodreads Summer Reading Challenge, com o tema de um destino que gostaria de visitar. Tratando-se de um romance, nunca esperei que fosse gostar tanto. Sempre gostei mais das histórias de amor como tempero e não como prato principal, mas este livro foi uma refeição completa, com direito a entrada e sobremesa, que me deixou saciada de várias maneiras.

«Beijo-o para o obrigar a calar-se. Se continuar a falar acabo por amá-lo e não quero amá-lo. Não quero mesmo. Como estratégia, não foi a melhor opção. Beijar é apenas uma outra maneira de falar, só que é sem palavras.»

No centro da ação temos duas personagens. Natasha é uma jovem convicta e pragmática que está prestes a ser deportada para a Jamaica. Daniel é um romântico incurável, filho de imigrantes coreanos, que aspira ser poeta. O resto já conseguem imaginar. Conhecem-se, sentem-se conectados um ao outro por um qualquer motivo inexplicável, vivem aventuras, sofrem, apaixonam-se e… Tudo isto em apenas 24 horas.

Esta foi uma das razões que me deixou reticente ao início. Não sou totalmente cética em assuntos do coração, mas amor à primeira vista é algo em que eu definitivamente não acredito. Mas, por incrível que pareça,  este livro conseguiu convencer-me. Não a acreditar em amor à primeira vista, mas a acreditar na história de Natasha e Daniel. Porque a história de Natasha e Daniel não é apenas uma história de amor. É uma história sobre como por vezes tudo no Universo parece conectar-se para chegar aquele momento específico. É sobre a forma como podemos ser uma influência na vida de alguém sem sequer nos apercebermos. É sobre o confronto entre a Ciência e a Fé. Sobre as coisas que quando estão destinadas a acontecer, acontecem mesmo. Sobre aquilo que temos o poder de mudar e aquilo que apenas podemos aceitar.

«Acho que todas as partes boas das pessoas estão ligadas a um nível qualquer. A parte que partilha a última bolacha do pacote, que faz um donativo para uma instituição, que dá um dólar a um músico de rua, que faz voluntariado num hospital ou que chora quando vê um anúncio da Apple que diz «amo-te» ou «desculpa». Eu acho que isso é Deus. Deus é a ligação das coisas melhores que nós temos.»

Sinto que aprendi muito com este livro, e quando digo aprender, não me refiro a nenhum tipo de epifania. Há vários capítulos no livro que se destinam apenas a transmitir conhecimento sobre os mais variados temas. Há de tudo, desde filosofia rastafari até física nuclear, passando por mitologia grega e história afro-americana. É um autêntico poço de aprendizagem e cultura geral. O enredo é cheio de histórias paralelas e discorrências de personagens figurantes que, de alguma forma, têm contributo para o arco principal. A tal questão de que estamos todos inexplicavelmente interligados pelo Universo e que uma pequena ação pode abalar o mundo de alguém. Essas histórias paralelas são-nos apresentadas em capítulos avulsos ao enredo principal, e confesso que isso me incomodou nas primeiras páginas do livro, mas foi apenas uma questão de hábito. No final acabou por fazer sentido e ainda bem que assim o foi. E o melhor de tudo? Não foi um conto de fadas onde tudo acabou bem e todos vivem felizes para sempre. Foi uma história realista, que no meio de sonhos e devaneios, nos atinge com a força lancinante da realidade e que, no final, nos deixa com uma dose de esperança. Relembra-nos que por muitos planos e teorias mirabolantes que elaboremos, não há nada que se equipare à força desta incógnita que é o destino.

Surpreendeu-me muito a forma como este livro conseguiu, tão naturalmente, falar de tanta coisa sem se desviar da história principal. É de louvar, sobretudo tendo em conta a facilidade com que muitos livros de romance se perdem no meio deste tipo de reflexões.

«As pessoas cometem erros constantemente. Pequenos erros, como ir para a fila errada no supermercado. A fila da senhora que está cheia de talões de desconto e vai pagar com cheque. Às vezes cometemos erros de tamanho médio. Como ir para medicina em vez de seguir uma paixão. Às vezes cometemos erros grandes. Desistimos.»

Fez-me sentir coisas que já não sentia há muito tempo. Deu-me aquela sensação de viver num mundo tão grande que as possibilidades são infinitas. Fez-me ter esperança, não em algo específico, mas na vida no geral. E eu sei que parece tolice, afinal tudo isto não passa de ficção, mas é esse o poder dos livros, a forma como histórias fictícias produzem em nós emoções tão reais. É por isso que este é um livro para todos. Para jovens, adultos e idosos. Para quem acredita no amor e para quem não acredita em nada.

Essencialmente, é uma história para quem gosta de um bom livro.

Sem Comentários

    Deixar uma resposta