Litinerário

Guia Literário de Nova Iorque: O Sol Também É Uma Estrela e Dash and Lily’s Book of Dares

No mês de outubro tive a oportunidade de visitar Nova Iorque e decidi fazer um litinerário baseado em dois dos romances que li, ambientados na cidade — O Sol Também É Uma Estrela (cuja review podem ler clicando aqui), a história de Natasha, que está prestes a ser deportada para a Jamaica e, numa última tentativa de permanecer no lugar a que sempre chamou casa, conhece Daniel, e Dash and Lily’s Book of Dares, a história de dois adolescentes amantes da leitura que se correspondem através de um caderninho vermelho que Lily deixa escondido numa das prateleiras de uma livraria que ambos frequentam. Nova Iorque é uma cidade imensa, com muita coisa para ver, mas graças a estes dois livros, descobri autênticos tesouros ocultos que fizeram toda a diferença na minha viagem. Se um dia tiverem a oportunidade de visitar Nova Iorque, aproveitem para visitar alguns dos pontos aqui referidos. Garanto-vos que não se irão arrepender.

Livraria The Strand

1º andar da livraria The Strand — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

A Strand é uma famosa livraria independente que pertence à mesma família desde a sua criação, em 1927.  A loja estende-se por quatro andares repletos de livros de todos os géneros e para todos os gostos, além merchandising relacionado à leitura, como meias, luvas e cartas. Um verdadeiro paraíso para livrólicos e o lugar onde tem início o enredo da obra Dash And Lily’s Book of Dares.

«Mas, ultimamente, passava mais tempo na Livraria Strand, aquele bastião de sabedoria estimulante, não apenas uma livraria, mas a colisão de centenas de livrarias diferentes com despojos literários espalhados por quase 30 quilómetros de prateleiras

É durante uma das suas visitas pontuais à Livraria Strand que Dash encontra, escondido na prateleira de um dos seus autores favoritos, um caderninho vermelho com pistas que o levarão a vários pontos da cidade de Nova Iorque. Ambos os protagonistas, Dash e Lily, são apaixonados por literatura, então a Livraria Strand acaba por se tornar um ponto de referência para os dois. É um lugar realmente incrível, o retrato perfeito de um país que valoriza a literatura. Encontrei de tudo  e tudo minuciosamente organizado nas mais variadas categorias que vão desde livros que foram banidos pela Igreja até livros de ficção de autoria negra. Fora da livraria, ao redor do edificio, também existem vários expositores com edições mais antigas e alguns raros.

 

Pizzaria Two Boots

Entrada do restaurante Two Boots — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

O Two Boots é uma cadeia de pizzarias com influências de vários pontos dos Estados Unidos. O primeiro restaurante abriu em 1987 e o sucesso foi tanto que em 2017 já existiam 15 restaurantes espalhados pelo país. Cada restaurante tenta reproduzir as características do bairro onde se encontra, e esse esforço vai desde a decoração ao próprio menu, tornando cada restaurante único.

«Dirigi-me à localização do Two Boots apontada no folheto de encomendas, na Avenida A, logo acima de Houston (…)
— Normal ou pepperoni?
— Calzone, por favor — respondi. O Two Boots faz umas pizzas estranhas com sabor a Cajun. Não servem para mim nem para o meu estômago sensível.»

O Two Boots é um dos locais para onde Dash encaminha Lily, através do caderninho vermelho pelo qual se correspondem. É lá que Lily tenta decifrar a mensagem deixada por Dash que inclui um exemplar do O Padrinho e um excerto de um poema de Marie Howe’s. O interior do restaurante é colorido, decorado em tons de verde, vermelho, amarelo e laranja e as mesas e os sofás são muito como os típicos diners americanos que estamos habituados a ver nos filmes. Infelizmente, não cheguei a provar a pizza, mas algumas das que estavam expostas no balcão tinham um aspecto maravilhoso.

FAO Schwarz

Entrada da loja FAO Schwarz — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

A FAO Schwarz existe desde o séc. XIX e é a loja de brinquedos mais antiga dos Estados Unidos. Foi criada em 1862, em Baltimore, pelo imigrante alemão Frederick August Otto Schwarz. Apesar de as suas iniciais formarem o atual nome da loja, esta começou por se chamar «Toy Bazaar». Foi descrita pelo New York Times como sendo «a maior traficante de brinquedos na cidade».

«Adorei cada momento da experiência assim que entrei —o jingle bells a tocar nas colunas, a adrenalina e o entusiasmo de ver todos os jogos e brinquedos coloridos num cenário que transcende a própria vida. Corredores e andares repletos de experiências densamente divertidas.»

Lily adora o Natal e tudo o que a ele está relacionado, por isso, quando Dash, novamente através do caderninho vermelho, a encaminha para a FAO Schwarz, é como se Lily fosse uma criança outra vez. Para mim, foi como se estivesse na Fantástica Fábrica de Chocolate de Willy Wonka. Apesar de não ser Natal, os funcionários estavam todos mascarados, havia música e algumas exibições e espectáculos para crianças a acontecer por toda a loja. Quando comecei a passear pelos vários andares, prometi a mim mesma que iria resistir à tentação e não comprar nada… Até chegar à secção dos doces. Chocolates de todos os tipos, gomas, rebuçados, todo o tipo de guloseimas que possam imaginar. Até as mais estranhas, como um chupa com um escorpião verdadeiro lá dentro! Mas acabei por me decidir por uma caixa de sushi feita inteiramente de gomas. Uma delícia!

Max Brenner

Entrada do Max Brenner Chocolate Bar — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

A Max Brenner é uma chocolateria multinacional com origem israelita. A firma foi fundada em 1996, em Isreael, mas depressa se estendeu a outros países, entre eles, os Estados Unidos. Especializados em sobremesas, o seu mantra é «o chocolate não se resume apenas ao sabor, é um símbolo de diferentes aspectos da nossa vida – do romance, da sensualidade, da decadência». Algumas das opções do menu incluem waffles, batidos, crepes, fondue e chocolate quente.

«Boomer referia-se a um restaurante a um quarteirão de distância da Livraria Strand, um espaço excitante onde se come chocolate ao estilo Willy Wonka — uma armadilha para turistas, com certeza, mas do melhor tipo, nada como o Madame Tussauds.»

Em Dash and Lily’s Book of Dares, Lily vai à Max Brenner com Boomer, o melhor amigo de Dash, onde dividem uma pizza de chocolate coberta de marshmallows e pedaços de avelã. Não tive a oportunidade de provar, mas o aspecto indica muita criatividade e maestria no que toca ao chocolate. Há realmente todo o tipo de bebidas e sobremesas que possam pensar, sempre envolvendo o chocolate. Os preços não são dos mais acessíveis (um chocolate quente custa em média 6 dólares), mas para os verdadeiros amantes de chocolate, é uma paragem obrigatória.

 

Rockefeller Ice Rink

Rockefeller Ice Rink — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

A pista de gelo do Centro Rockefeller, um complexo com 19 edifícios comerciais, foi inaugurada em 1936 e é uma das atrações mais famosas de Nova Iorque, sobretudo durante a época do Natal. É também no local que, todos os anos, é colocada a icónica árvore de natal da cidade.

«— Oh, olha — disse, observando o Rockefeller ice rink. — Skaters. Milhares deles. Com camisolas de todos os cinquenta estados.»

Dash e Lily marcam o seu primeiro encontro oficial na pista, mas no final acabam por mudar os planos. É um bom ponto de visita, mas as filas para a pista podem demorar mais de 1 hora e os preços não são propriamente acessíveis. Após me informarem do preço de 30 dólares por pessoa (preço de adulto) para usar a pista, decidi ficar só pelas redondezas, onde havia mercadinhos com uma grande variedade de produtos.

 

Café Reggio

Entrada do Café Reggio — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

O Café Reggio existe em Nova Iorque desde 1927 e é um dos pontos mais fortes de Greenwich Village. O seu fundador, Domenico Parisi, foi quem trouxe o capuccino italiano aos Estados Unidos, no início dos anos 20. É um estabelecimento pequeno, mas bastante acolhedor. Na decoração predominam os tons mais escuros e as paredes são de madeira, então dá-nos aquela sensação de estarmos numa cabana, algures perdida no meio dos Alpes. É um dos pontos principais da obra O Sol Também É Uma Estrela.

«Este sítio é revestido a mogno, os móveis são de madeira escura e cheira exatamente como se imagina. É também um pouco acima da media. E quando digo um pouco refiro-me aos vários quadros a óleo com um único grão de café que estão pendurados na parede.»

Em O Sol Também é uma Estrela, Natasha e Daniel vão ao Café Reggio após Daniel lhe salvar a vida. Ali debatem questões sobre o amor, a Ciência e a vida, e Daniel desafia o ceticismo de Natasha ao propor  um experimento científico, composto por 36 perguntas, que supostamente é capaz de fazer os seus participantes apaixonarem-se. Fui lá tomar brunch com uma amiga e saí de lá mais que satisfeita. Pedi panquecas e um milkshake e ambos estavam divinais. No final, como manda a tradição nos Estados Unidos, além do preço da refeição e do imposto nacional, foi ”sugerido” um valor a pagar de gorjeta.

Gagopa Karaoke

Recepção do Gagopa Karaoke — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

O Gagopa Karaoke é um famoso bar de karaoke localizado em Koreatown, um enclave étnico que reúne mais de 150 pequenos e grandes negócios de origem coreana. Contrariamente ao que se está habituado em Portugal, no Gagopa é possível alugar salas privadas de karaoke a um preço de 36 dólares por hora.

«O Daniel escolhe uma das salas mais pequenas, mas mesmo assim é grande. São salas para seis ou oito pessoas, não são só para dois. A sala está pouco iluminada e decorada com uns sofás caros de pele vermelha. Uma grande mesa de apoio quadrada está colocada no centro dos sofás. Tem um microfone, um controlo remoto com um ar complicado e um caderno grosso que tem escrito na capa e em três línguas Menu de Canções. Ao pé da porta, há uma televisão grande onde a letra aparece e há uma bola de espelhos pendurada no teto.»

Em O Sol Também É Uma Estrela, Natasha e Daniel vão a um karaoke coreano (chamado norebang)  que fica mesmo ao lado do restaurante onde almoçaram. Não há certezas de que se trata do Gagopa, mas dado que foi o lugar utilizado no filme, decidi-me eu também por ele. É lá que Natasha e Daniel trocam o seu primeiro beijo. Já eu, apesar de não ter dado nenhum beijo ao amor da minha vida, também posso dizer que adorei a experiência. De todos os lugares que visitei em Nova Iorque, foi, sem dúvida, o meu favorito. A sala era exatamente como o livro a descrevia e a lista de músicas era infinita. Fui com mais dois amigos e cantámos The Cranberries, Jonas Brothers, Queen e até o tema do Pokemon. No entanto, se um dia tiverem a oportunidade de passar por lá (e eu espero realmente que tenham) façam a reserva com antecedência. Os karaokes da região têm tendência a esgotar muito rápido, sobretudo ao fim de semana.

Museu Americano de História Natural

Saída do Museu Americano de História Natural — Foto: Elga Fontes / Quem Me Lera

É considerado o maior museu de história natural do mundo e foi fundado em 1869, com o apoio de Theodore Roosevelt, um famoso ex-presidente dos Estados Unidos. É conhecido por ter sido o cenário do famoso filme À Noite no Museu, no qual todas as exposições ganham vida durante a noite. Possui cerca de 45 salas de exibições permanentes que vão desde fósseis de dinossauros a um planetário.

«Dez minutos depois, estou dentro do museu, na minha secção preferida – A Ala dos Meteoritos. A maioria das pessoas passa por esta sala em direção à sala das gemas que é mesmo aqui ao lado, com as suas vistosas pedras preciosas e semipreciosas. Mas eu gosto desta sala. Gosto do facto de ser escura, fria e vazia.»

Este é um dos lugares favoritos de Natasha. Depois da discussão com Daniel, é para lá que se dirige, para visitar o seu meteorito favorito, o Ahnighito. Natasha é apaixonada pelo espaço, pela sua imensidão e os seus mistérios. Quando lá fui, apanhei uma fila que quase alcançava a saída do metro. Foi quase 1 hora de espera, mas no final valeu a pena. Se um dia lá forem, tentem tirar, no mínimo, uma manhã ou uma tarde inteira para visitarem o museu. Há muita coisa para ver e exposições para todos os gostos. Aconselho-vos, também, a pedirem um mapa na recepção, pois aquilo é tão grande que é muito fácil perderem-se lá dentro. O preço de entrada é livre, isto significa que vocês é que escolhem o valor que querem pagar, estando apenas estabelecido o valor mínimo de um dólar, a não ser que queiram ver um dos espetáculos interativos (eu fui ver o do Planetário), já que esses já possuem um valor mais alto.

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