Opiniões

“Onde Cantam os Grilos” de Maria Isaac

Autora: Maria Isaac
Editora: Cultura Editora
Ano de Publicação: 2020
Género: Romance
Páginas: 291

Independente | Wook | Bertrand

Sinopse

«Ainda bebé, Formiga foi deixado num cesto nos degraus da casa da Herdade do Lago.

O mistério da sua chegada é apenas mais um na longa história da herdade e das várias gerações dos Vaz, que a assombra de lendas e maldições: uma fonte inesgotável de mistérios fascinantes para a imaginação do rapazinho cabeça de vento.

Deslumbrado pela vida da família que venera de forma atrapalhada, Formiga corre e trepa a árvores, encolhe-se, faz-se invisível, inventa um pouco de tudo para conseguir acompanhar conversas, descobrir mais um segredo.

Mas o último segredo que ele descobre revela-se demasiado grande para a curiosidade bem-intencionada de uma criança, e um erro seu acaba por destruir o único mundo que conhece e pôr fim à sua infância.

Mais de vinte anos depois, Formiga regressa à Herdade do Lago e escreve para um leitor invisível, relembrando tudo o que foi e que não deveria ter sido. Uma história doce contada pela voz de um adulto que fala pela criança que foi um dia.»

Apreciação

Capa: ★★★★☆
Enredo: ★★★★
Escrita: ★★★★★
Personagens: ★★★★★
Apreciação Geral: ★★★★☆

Opinião

Este livro tinha tudo para ser aborrecido. Não tem uma linha de enredo normal – com início, meio e fim –, apenas a menção a um grande segredo nas primeiras páginas e um fio condutor ao longo dos capítulos que nos apresenta eventos desconexos narrados pelo protagonista – o Formiga. 

Contrariando as minhas expectativas, a autora, Maria Isaac (pseudónimo), conseguiu criar uma narrativa enigmática, fragmentada em diversos focos de relatos que a cada capítulo suscitam uma curiosidade ainda maior. A história é do mais portuguesa que se pode ser, dá para rir, chorar, berrar, estrebuchar, e o final, apesar de previsível, não deixa de ter o seu impacto.

«Sim, a Herdade do Lago, como qualquer corpo quente e com vida, tinha um coração e ele não estava no lago – esqueçam as lendas –, o coração da herdade seguia a tradição da casa portuguesa, aconchegado na cozinha.»

Esta é uma história movida a personagens. Mais do que isso, esta é uma história que respira através das personagens. Foram elas que lhe deram vida, sempre tão diversas, genuínas e tão próximas de algo inexplicável que todos nós, portugueses, conhecemos. Há um sentimento de familiaridade que permeia a narrativa e se manifesta através destas personalidades tão caricatas – o Formiga com a sua inocência e encolher de ombros, a D. Idalina e o seu instinto maternal a paus e pedras, o Sr. Luís que mais parece saído de uma obra de Eça de Queirós… 

Escrita sublime e um ritmo que, apesar de lento, conseguiu abraçar o magnetismo da narrativa. Gostei tanto deste livro que só me apercebi do quanto me tinha marcado quando cheguei ao final. Acho mesmo que me apaixonei pela história, pelo ambiente, pelas personagens, pelos mistérios. Não há uma única coisa que não valha a pena, excepto, talvez, pelo momento em que somos obrigados a despedir-nos da Herdade do Lago e de todos os seus (des)encantos.

Confesso que gostaria de ter lido um maior aprofundamento nas personagens que mais me cativaram, como a Ana e a Dona Leonor, mas, por outro lado, também acho que esta aura de mistério que as circunda foi um dos aspectos que as tornou fascinantes. Está longe da perfeição, mas é essa a beleza da literatura. Nem sempre se trata da qualidade da história, mas da forma como nos deixa cativos, e Onde Cantam os Grilos primou por ambos os aspectos.

P.S A Dona Idalina ganhou o óscar de melhor personagem do ano.

 

Sem Comentários

    Deixar uma resposta