Autor: Ricardo Tomaz Alves
Editora: Chiado Editora
Publicação: Abril de 2020
Género: Ficção
Páginas: 457
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Sinopse
«Este é um romance sobre um jovem que perde o emprego e que na luta para conseguir outro passa por entrevistas mirabolantes.
Acaba por conhecer uma jovem ativista que lhe mostra todo um mundo novo e acaba por meter-se em situações com as quais nem sequer imaginara (entre elas o rapto a um alto representante do Governo).
Irá este jovem perder-se no emaranhado de desespero e depressão em que o desemprego se pode por vezes tornar ou encarar esta situação como uma oportunidade de explorar novas oportunidades, tanto de emprego como de vida?»
Aviso de conteúdo: contém cenas de assédio sexual, importunação sexual, pedófilia, referências a violação, entre outros assuntos sensíveis.
Apreciação
Capa: ★★☆☆☆
Enredo: ★★☆☆☆
Escrita: ★★★☆☆
Personagens: ★☆☆☆☆
Apreciação Geral: ★★☆☆☆
Opinião
Este livro foi-me oferecido pelo autor.
Vou começar por salientar os aspectos positivos desta experiência de leitura, que infelizmente foram escassos. Destaco a escrita, bastante acima da média do que se espera de uma editora como a Chiado. A premissa da história estimulou as minhas expectativas, que eram altas, dada não só a pertinência do tema, como as opiniões que li de diferentes leitores. Esperava, por isso, deliciar-me com uma narrativa cómica e irreverente. Estava longe da verdade.
Vicente é um adulto que, ao perder o trabalho, se vê obrigado a enfrentar a dura realidade do desemprego em Portugal. A sua história é um malabarismo de situações caricatas entre visitas à Segurança Social e entrevistas de emprego que denunciam o que de mais condenável existe no mercado de trabalho português, situações essas que atingem o seu clímax quando Vicente conhece Lara, o derradeiro ponto de viragem deste enredo.
O Vicente é um protagonista intragável. E até aqui tudo bem, não é o primeiro e tampouco será o último. Aplaudo a alteridade de personagens do panorama literário mundial e sou a primeira a admitir a necessidade de se escreverem personagens que encarnem as problemáticas da sociedade. No entanto, na mesma intensidade com que as aplaudo, condeno a irresponsabilidade com que algumas delas são retratadas.
É o caso de Vicente em O Desempregado. Não é apenas uma personagem intragável. É um acervo de comportamentos que incluem assédio sexual, objetificação feminina, pedófilia, entre outras que são normalizadas pela narrativa e tratadas de forma leviana. Fiz questão de transcrever algumas dessas cenas, que poderão consultar arrastando a imagem do post. Acho muito grave que em pleno século XXI ainda se aproveitem destas problemáticas de forma tão perigosa. Não houve qualquer tipo de cuidado na descrição das atitudes e pensamentos do Vicente e faltou um enquadramento mais responsável na história.
Responsabilidade. É a palavra de ordem aqui. Faltou responsabilidade da parte do autor, e da própria editora, na forma como estas temáticas foram incluídas na história. Como mulher, senti-me desconfortável com a leitura, pela forma como este livro romantizar a realidade monstruosa que muitas mulheres são obrigadas a enfrentar diariamente, e por tudo isto se afigurar como uma tentativa de comédia. Mas assédio sexual não é comédia. Pedófilia não é comédia. E eu não me ri uma única vez.
Conversei com o autor antes de escrever a minha opinião e, felizmente, ele mostrou-se aberto a um debate. Ainda assim, senti, na minha consciência, a necessidade de publicar a minha opinião para suscitar uma maior reflexão sobre estas questões.
No que ao resto da história diz respeito, apesar da premissa entusiasmante, não apreciei a forma como foi conduzida. O enredo submeteu-se a uma bifurcação narrativa demasiado fantasiosa e pouco credível que me deu a impressão de estar a ler uma história totalmente diferente. Os acontecimentos tornaram-se previsíveis e os capítulos desleixados. As personagem secundarias não tinham autenticidade e a sua intervenção apenas desempenhava o papel de força motora para as ações do protagonista. A certo ponto, a história confunde-se com um guia turístico exaustivo e tudo isto culmina num final clichê, sem qualquer tipo de resolução ou consistência com o início da história.
1 Comentário
Ricardo Tomaz Alves
30 de Dezembro, 2020 at 17:46Depois de refletir decidi excluir da segunda edição de O Desempregado , que sairá em Janeiro, todas as passagens referidas pela Elga e outras que possam de alguma forma causar desconforto aos leitores. Não só porque acho o mais responsável a fazer como não acrescentam nada à história, pelo contrário, só a diminuem. Obrigado pela chamada de atenção. Não foi nem é minha intenção ferir os sentimentos de ninguém. Apenas quero passar uma mensagem de revolta, mas percebo que o possa fazer de outra forma. Esta nova forma de trabalhar oferece-me esta possibilidade e vou aproveitar esta oportunidade para o fazer no imediato. Compreendo o que está mal e errado e quero mudar isso. Importante referir que a versão referida já não se encontra disponível. A todos os leitores que se sentiram ofendidos pelo conteúdo deste livro, as minhas sinceras desculpas. Há que admitir quando não se esteve bem e melhorar. 🙏🏻