Autora: Louise O’Neil
Editora: Civilização Editora
Publicação: Outubro de 2015
Género: Ficção Distópica
Páginas: 389
Compra:
Book Gang
Sinopse
«Num mundo obscuro e perturbador, as raparigas já não nascem de forma natural, as mulheres são doutrinadas nas escolas, treinadas nas artes de satisfazer os homens até estarem prontas para o mundo exterior. No final dos estudos, as melhores alunas tornam-se “companheiras” e permitem-lhes viver com o marido e gerar filhos até já não serem necessárias. Para as raparigas que ficam para trás, o futuro – como concubina ou professora – é sombrio. As amigas Freida e Isabel têm a certeza de que irão ser escolhidas como companheiras – estão entre as melhores alunas do seu ano. Mas à medida que se aproxima o ano final, isabel faz o impensável e começa a engordar… Nessa altura chegam a este ambiente protegido os rapazes, ansiosos por escolher uma noiva. Uma crítica à obsessão da sociedade atual com o aspeto e o comportamento das mulheres. Um livro ousado, arrepiante e totalmente viciante.»
Apreciação
Capa: ★★★☆☆
Edição: ★★★★☆
Escrita: ★★★★★
Enredo: ★★★☆☆
Personagens: ★★★★☆
Responsabilidade: ★★★☆☆
Sentimento: ★★★★☆
Apreciação Geral: ★★★★☆
Opinião:
Um universo com as mesmas raízes misóginas de The Handmaid’s Tale (A História de Uma Serva em PT) e um enredo que nos remete à crueldade e superficialidade do filme Mean Girls (Giras e Terríveis em PT). Em As Filhas de Eva, a sociedade contemporânea é reimaginada, as mulheres (chamadas evas) criadas através de um computador e distribuídas através de um sistema de terços: as companheiras, escolhidas pelos homens e destinadas a gerarem novos Herdeiros, as concubinas, cujo propósito é atender aos caprichos sexuais dos homens, e as castidades, sobre quem recai a função de educar as novas evas.
«Todas as evas são criadas para serem perfeitas, mas, com o tempo, parecem adquirir defeitos. Comparares-te com as tuas irmãs é uma boa forma de identificares esses defeitos, mas, depois, tens de tomar as medidas necessárias para te aperfeiçoares. É sempre possível melhorar.»
Um cenário apavorante que explora temas recorrentes, como padrões de beleza inalcançáveis, distúrbios alimentares e o lugar da mulher na sociedade. Tudo isto se desenrola através da perspectiva de Freida, a protagonista, uma eva de 16 anos que luta por um futuro digno no sistema de terços. Foi um dos livros mais sombrios que li nos últimos tempos. Há um mosaico de detalhes engenhosamente idealizados que se provaram fulcrais para a consolidação do universo, desde o nome das personagens femininas, escrito em letra minúscula para reforçar a sua insignificância, em contraste com o nome dos homens (os chamados Herdeiros) que homenageavam personalidades importantes, como Abraham Lincoln e Leonardo Da Vinci, até à forma como a narrativa evolui, fluída, lúgubre e temperada de resignação. Não há qualquer vestígio de esperança ou grito de revolta nesta história. Como leitora, senti-me miserável do início ao fim porque tudo o que acontece é-nos apresentado como inevitável e incontornável, e isso é o que torna esta história tão assustadora e a crítica tão brilhante, porque nos incumbe a urgência de começarmos a agir antes que seja tarde demais.
No entanto, o que este livro cativa com o universo, perde com o enredo, que não chegou minimamente perto de atingir os padrões de excelência estabelecidos pelo universo. Faltou-lhe dinâmica, faltou-lhe vida. Sou da opinião que quando se cria um universo tão incrível, o enredo precisa de acompanhar para a experiência de leitura ser irrepreensível.
Não foi o caso. Ainda assim, não deixo de recomendar este livro a quem tiver o estômago para o ler.
Sem Comentários