Opiniões

“Racismo em Português” de Joana Gorjão Henriques

Autora: Joana Gorjão Henriques
Editora: Tinta da China
Publicação: Junho de 2016
Género: Não Ficção
Páginas: 224

Links de Compra:
Wook | Bertrand | Editora

Sinopse

«O PRIMEIRO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO SOBRE O LEGADO DO COLONIALISMO PORTUGUÊS. Cinco países. Cinco viagens. Cinco reportagens. Mais de cem entrevistas que procuram compreender a forma como o colonialismo marcou as relações raciais. Os portugueses terão sido mais brandos e menos racistas do que as outras potências coloniais, como o lusotropicalismo quis fazer acreditar?

A partir de inúmeras entrevistas feitas em Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique, Joana Gorjão Henriques desconstrói a polémica questão do racismo no colonialismo português. Quarenta anos passados sobre as independências das ex-colónias portuguesas, este livro questiona até que ponto o racismo afecta ainda hoje as relações sociais, políticas e económicas nesses países.»

Apreciação

Capa: ★★★★★
Edição: ★★★★★
Escrita: ★★★★★
Argumentação: ★★★★★
Responsabilidade: ★★★★★
Apreciação Geral: ★★★★★

Opinião

Este livro nasceu de um conjunto de reportagens publicadas pelo jornal Público, em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Através de uma rigorosa investigação histórica e do recolhimento de diversos depoimentos, reconstituiu-se o trajeto colonial de Portugal em Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique através das vozes de quem o viveu, que transmitem a história da expansão portuguesa como o que realmente foi. Um golpe profundo ao mito do “bom colonizador” que até hoje mancha a percepção histórica dos portugueses e um impulso para um maior entendimento das consequências resultantes das políticas coloniais que perduraram nas antigas colónias.

«O racismo colonial foi um apagão e um arrastão: apagão da cultura africana, obrigando as populações a despirem-se de toda a sua identidade; e um arrastão ideológico, porque contaminou mentalidades de todos os quadrantes e durante séculos, de tal forma que até hoje se verificam os seus efeitos.»

Os testemunhos aprofundam uma realidade frequentemente rejeitada pelos manuais de história, desde a criação do estatuto de indígena em Angola ao modelo de apartheid em Moçambique. Os capítulos são bem organizados e estruturados, cada um dedicado aos relatos e vivências de um país diferente, e as últimas páginas integram um posfácio de Miguel Bandeira Jerónimo, Investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que reflete sobre o racismo como instrumento legitimador de uma «ordem imperial» moderna. O livro agrega ainda um guia de leitura com sugestões de diversos títulos que abordam esta questão, com especial foco para a expansão colonial.

O livro traz DVD com as entrevistas feitas durante a reportagem e precede a obra “Racismo no País dos Brancos Costumes”, que relata casos reais de racismo em Portugal e a forma como se relacionam aos mecanismos coloniais (clica aqui para saber mais).

Foi uma leitura enriquecedora em muitos aspectos. Serviu para denunciar, questionar, aprender e refletir. É daqueles livros que se deve fazer acompanhar por um marcador ou caderno, porque há muita informação relevante que merece ser eternizada não só na nossa mente, mas também nas nossas notas pessoais. Cumpre o dever de contextualizar uma problemática que, tão convenientemente, tende a desvalorizar as suas raízes lusitanas para preservar o argumento indefensável de que Portugal e Racismo são conceitos incompatíveis. A informação é uma das maiores armas da luta anti-racista, porque a partir do momento em que nos dispomos a aprender sobre o passado, criamos as condições para a salvação do futuro.

 

Sem Comentários

    Deixar uma resposta