Autora: Maria Isaac
Editora: Cultura Editora
Publicação: Maio de 2021
Género: Ficção
Páginas: 208
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(Este livro foi-me oferecido pela editora)
Sinopse
«Bem-vindo a Mont-o-Ver!
Português que se ponha a caminho da montanha, no inverno, ou da praia, no verão, é certo passar por esta planície de canaviais; mais certo ainda, nem dar por ela. A velha linha férrea passa-lhe ao lado e os comboios já nem sequer abrandam por aqui. Em tanto espaço igual, esta é paisagem fácil de se perder.
Pois permitam que vos apresente os ilustres da vila.
O padre Elias Froes, o homem santo que tem por hábito gastar tempo a pensar no mundo, raramente em si próprio. Guarda segredos que mais ninguém sabe.
Catalina Barbosa, aventureira e contestatária. Menina bem-comportada apenas aos domingos, quando a avó a amordaça dentro de um vestido bonito para ir à missa.
Rosa Duque, a mulher que, em tempos, teve tudo para ser feliz. Foi vencida por um coração partido e resgatada por uma flor.
Zé Mau, o terror na vida das crianças. Os irmãos Mondego, os vilões nas histórias dos adultos.
Este vilarejo pode até ser pequeno e parado, mas está cheio de gente atrapalhada com muita vida para esconder.
Descubram comigo o que aconteceu, afinal, na noite do grande incêndio de há uma década e quem são os verdadeiros heróis desta nossa história pitoresca, temperada com os habituais mal-entendidos.
Bem-vindo a Mont-o-Ver!»
Avisos de Conteúdo: violência doméstica, doenças terminais, morte, assassinato;
Apreciação
Capa: ★★★★★
Edição: ★★★★★
Escrita: ★★★★★
Enredo: ★★★★☆
Personagens: ★★★★★
Responsabilidade: ★★★★☆
Sentimento: ★★★★★
Apreciação Geral: ★★★★★
Opinião
Depois do sucesso de “Onde Cantam os Grilos”, Maria Isaac volta a surpreender-nos com o seu mais recente romance, “O que Dizer das Flores”, que acompanha a vida dos habitantes da pequena vila de Mont-o-Ver, incluindo alguns dos que já tão bem conhecemos da sua primeira obra.
O estilo narrativo da autora mantém-se inconfundível, centrado em personagens brilhantemente construídas cujas histórias se vão interligando até culminarem na grande revelação que se faz antecipar logo nas primeiras páginas. A ação avança a um ritmo aliciante, deixando-nos presos numa avidez por mergulhar cada vez mais naquele mundo e naquelas personagens. É um livro que transpira alma lusitana, representando o melhor (e o pior) do nosso Portugal rural, dos seus vilarejos de cenários pitorescos e da intimidade caseira que compõe o estilo de vida do interior.
Há tanto por elogiar neste livro que nem sei por onde começar. Mais uma vez, a autora foi capaz de criar um leque de personagens inesquecíveis, como a pequena e irreverente Catalina, o surpreendente Jorge Mondego e a esperançosa Celeste. Adorei-as a todas e à forma como foram caracterizadas, a complexidade e a atenção meticulosa aos mais pequenos detalhes que tão bem compunham o seu carácter e as suas histórias. Cada uma delas daria um livro inteiro por si só.
A escrita é deliciosa, enigmática e cheia de emoção, proporcionando uma experiência que se vai tornando mais intensa ao virar de cada página. Os capítulos são curtos e realçam a perspectiva de diferentes personagens através de uma voz narrativa jovial e imprevisível.
Gostei tanto deste livro que quando me apercebi de que me aproximava do fim, tentei adiá-lo o mais possível. Mesmo agora, dias depois de o ter terminado, ainda estou com dificuldades em despedir-me de Mont-o-Ver.
Leiam “O que Dizer das Flores” e, se tiverem oportunidade, aproveitem também para ler “Onde Cantam os Grilos”. Dificilmente se arrependerão.
Frases
«Observo a Elena sempre que posso, com a atenção demorada que reservo para os silenciosos e, para meu espanto, pouco consigo dizer sobre a garota. Não importa o quanto lhe implore, nunca se deixa ver. Também aqui há gente assim, daquela que apenas vagueia entre os outros e se recusa a existir onde a obrigam a permanecer.»
«Mas, acontecesse o que acontecesse na sua vida, esperava-a um final feliz. Era essa a esperança que dava sentido a tudo aquilo, a orientava na busca incansável por momentos perfeitos, e que nunca a deixava perder-se (…) Só precisava de continuar, terminar aquele dia, começar o seguinte em que tudo iria correr melhor.»
«Acreditam em corações partidos? Eu acredito que ela morreu de amor.»
«Agora, ele só precisava de continuar a fazer como lhe parecia que tinha de ser feito, e o tempo iria mostrar-lhe como é assim, a tremer de coragem, que muitos de nós chegamos onde é suposto chegarmos.»
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